Estamos enfrentando nos últimos meses o maior impacto sanitário e econômico das últimas décadas. Nada parecido podemos estabelecer como comparação e referência.
O que chamamos de DC, “Depois do Corona Vírus (covid-19)”, ou seja, impactos que teremos em praticamente todas as áreas serão realmente fortes e mudarão a relação de forças em todo o mundo. Comentei isso em outro artigo específico: AC & DC, fatos!, que recomendo a leitura.
Destacamos aqui a cadeia de suprimentos mundial e como o impacto do corona vírus mudará esta relação de forças em todo o mundo.
Vivenciamos que nos últimos 30 anos forte migração do parque industrial de muitos países para países que apresentavam até então custo total de produção mais baixo, principalmente, com a mão de obra mais competitiva. A China foi o grande destino da maioria destas indústrias, sendo elas de origem americana, japonesas e também da união europeia, ou seja, respectivamente a primeira, a segunda e a terceira economias mundiais definindo forte migração de suas cadeias de fabricação e suprimentos para a China.
Muito se questionou nas últimas décadas sobre as condições de trabalho na China, e que em muitos casos, se assemelhavam à trabalhos escravos, etc., mas o fato é que apesar deste repudio mundial às condições de trabalho na China, nunca de fato foram comprovadas estas irregularidades, e o mundo em quase sua totalidade migrou boa parte de suas cadeias de produção para fornecedores chineses.
A China por sua vez fez sua parte, cresceu nos últimos 20 anos a uma taxa superior a 6,7% a.a., e por seus méritos e competência atingiu e se consolidou como a segunda maior economia mundial, ultrapassando o Japão e a união europeia. Lembrando que ocupava há trinta anos a décima primeira posição no ranking, inclusive atrás do Brasil. Um salto impressionante!
O fato é que as consequências e os efeitos, durante e pós pandemia, estão sendo devastadores para muitas potencias econômicas mundiais, se vendo forçadas a praticarem leilão para adquirirem insumos e equipamentos hospitalares. Vivenciamos cancelamentos de pedidos de muitos países e até mesmo disputas por insumos em aeroportos, mundo a fora. Potencias como EUA, Japão e união europeia totalmente reféns de produtos considerados básicos do ponto de vista tecnológico, mas que em sua grande maioria são industrializados na China, caso típico dos respiradores auxiliares para UTI’s, além de uma série de outros insumos EPIs.
Não restam dúvidas que esta relação e equilíbrio de forças da cadeia de suprimento mundial mudará, e já estamos vivenciando uma série de medidas que estão indo ao encontro deste objetivo. Destacamos a indústria japonesa por exemplo, com investimentos e incentivos bilionários do governo japonês, estão buscando alternativas com menor dependência da China, trazendo de volta para casa ou para outros países do sudeste asiático importantes marcas de seu portfolio de empresas, como Canon, Toshiba, Nikon, Fujitsu, Toyota, Honda, Mitsubishi, dentre muitas outras importantes marcas já conhecidas no mercado mundial.
E o que podemos falar da relação EUA -China? Até pouco tempo atrás travavam uma guerra comercial e que pouco antes desta pandemia chegaram a um acordo parcial e que apenas minimizou a volatilidade e instabilidade nos mercados de capitais.
Atualmente muitos analistas chamam este novo momento entre os dois países de “a nova guerra fria”, (Alusão à tensão geopolítica entre os EUA e seus aliados contra União soviética, no período pós II Guerra mundial e que perdurou até sua dissolução com o fim da União Soviética no início da década de 90).
Com a pandemia atual, a relação de dependência dos EUA com a China aflorou ainda mais o discurso do presidente americano Donald Trump, enfatizando em suas mensagens a necessidade de menor dependência, desejando assim ter seu parque industrial de volta.
Lembramos que quando Trump era candidato às eleições americanas em 2016, esta já era uma forte mensagem nacionalista em todos os seus discursos, e que em parte, contribuiu para sua eleição e vitória.
O fato é que esta relação de forças mudará o eixo comercial do mundo todo. Temos que enaltecer a competência do povo chinês e seu crescimento, mas é fato que o mundo ficou abalado e preocupado com esta relação de dependência.
Acreditamos que os próprios líderes chineses estão preocupados com o desencadeamento de decisões que muitos países possam adotar, buscando alternativas para suas estratégias de suprimento. Fiquemos atentos aos próximos passos.
EDUARDO STEFANO
Consultor & Palestrante